quinta-feira, 28 de maio de 2009


"Ah, dor jamais pensada!

Para que novo tormento eu poupei minha vida!

Tudo que eu sofri, os temores, loucuras,

Transportes de paixão, o abismo dos remorsos,

A injúria insuportável da rejeição cruel,

Era só um prenúncio do tormento atual;

...

E eu, triste refugo de toda a natureza,

Ah, eu fugia da luz, me ocultava do dia.

A morte era o único deus que eu ousava invocar,

Esperando o momento de desaparecer.

Nutrindo-me de fel, bebendo as próprias lágrimas,

E com minha infelicidade sempre vigiada,

Não podia sequer me desafogar no pranto.

Saboreava a medo esse prazer funesto

Disfarçando minhas mágoas numa expressão serena.

E muitas vezes minha dor tinha que se privar das lágrimas."


("Fedra" / Racine)

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